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15 set 2013

Existe um jeito certo de correr?

Correr “feio” não quer dizer necessariamente errado nem pouco eficiente, como bem mostrou Zatopek. Mas ao se corrigir algumas posturas que prejudicam a eficiência na corrida, os ganhos aparecem naturalmente.

Observando os grandes atletas, campeões em suas respectivas MODALIDADES, percebemos que seus movimentos corporais se realizam de um modo suave, preciso e determinado. Por mais que a fadiga os alcance, ainda assim parecem dominar o ritmo do seu corpo, a postura adequada para o desfecho de sua ação motora, seja ela um chute certeiro em direção ao gol, o arremesso da linha dos três pontos no basquete ou a cortada decisiva em um jogo de voleibol.

Os corredores de fundo, como em qualquer outra modalidade esportiva, também apresentam movimentos corporais suaves, precisos e determinados. Cabeça, tronco, braços, quadril, pés – todos alinhados, trabalhando em conjunto, que nos dá a sensação de estarem em perfeita harmonia com a natureza. A leveza e precisão dos seus gestos se impõem ante a dor, a fadiga, o adversário mais difícil, o percurso mais desafiador ou o clima menos favorável.

Mas esta decantada perfeição do conjunto gestual dos grandes campeões é resultado da longa aprendizagem que se realiza durante o processo do treinamento esportivo ou se trata de algum estilo pessoal, ou seja, um jeito próprio de fazer, que confere a quem faz uma distinção capaz de lhe valer as honras da vitória?

Há milhares de anos, nossos antepassados, no impulso da sobrevivência, descobriram modos mais fáceis para executar as tarefas do cotidiano. A roda e a alavanca são exemplos disso. A esse conjunto inacabável dos modos de fazer do cotidiano chamamos técnica, isto é, o conhecimento prático destinado a solucionar as questões que envolvem o trabalho e a própria sobrevivência do ser humano no mundo natural.

TÉCNICA É FUNDAMENTAL. Nos esportes, a técnica é um elemento considerado fundamental para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do atleta. Juntamente com o preparo físico, tático e psicológico, a técnica é um dos fatores determinantes do sucesso esportivo, em qualquer modalidade. A técnica esportiva, portanto, traduz o jeito de fazer do atleta, é o movimento considerado melhor, mais eficiente, mais seguro e harmonioso. Ela representa, enfim, a leveza e a precisão do movimento humano, a perfeição de um gesto corporal específico.

Mas a técnica não é algo fixo, coisa que não muda nunca. Tampouco algo que se nasça sabendo fazer e pronto. A técnica é um elemento da história humana, dos povos, das sociedades e culturas distintas. Vejamos o caso da corrida de fundo. Até pouco tempo, pisar com o calcanhar era considerado o jeito “certo” de correr, pois se acreditava que o impacto era reduzido e, com isso, o risco de lesões também diminuía, além de ser mais eficiente do ponto de vista biomecânico. Atualmente, com os avanços da ciência, mudou-se o padrão do gesto técnico na corrida de fundo. O que é ideal agora para os especialistas é correr pisando com o pé por inteiro.

A técnica, portanto, é uma mistura daquilo que é natural, ou seja, próprio do ser humano, com o que é aprendido – um saber prático transmitido pela tradição ou ensinado pelo conhecimento científico. A técnica é, assim, a racionalização do movimento humano.

Porém, fica uma pergunta: será que a técnica reina absoluta no mundo esportivo? Ou será que algum corredor já contrariou os preceitos da técnica vigente e fez a coisa do seu jeito? Bem, a história nos conta alguns casos interessantes. Emil Zatopek, vencedor dos 5.000 m, 10.000 m e da maratona nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952, nunca foi o melhor representante da técnica apurada, pelo contrário. Desengonçado, cabeça pendendo para os lados, língua de fora – uma caricatura de corredor – Zatopek contrariou a lógica do gesto perfeito e tornou-se um dos maiores corredores de longa distância em todos os tempos. Michael Johnson, primeiro corredor a vencer os 200 m e os 400 m em uma mesma Olimpíada (Atlanta, 1996), recordista mundial nas duas distâncias, apelidado de Pato, por correr “sentado”. E o que falar da nossa excelente e vitoriosa Márcia Narloch? Seria ela a versão feminina do grande atleta tcheco dos anos 1940-50? E ainda de José João da Silva, bicampeão da São Silvestre, que corria (e ainda corre bem) aos saltos. Estes são alguns exemplos que fazem os especialistas em biomecânica estremecerem nas bases!

ESTILO DE CADA UM. Dessa forma, existe algo que escapa à objetivação da técnica, que foge ao enquadramento cultural que a técnica nos impõe, que supera o controle do padrão de qualidade proporcionado pela técnica. Este algo é o estilo, ou seja, aquilo que se faz de um jeito todo próprio, característico de alguém. O estilo, portanto, é pessoal, único, diferente, pode ou não chamar a atenção, pode ser melhor, pior ou nenhum deles. Ao contrário da técnica, que procura moldar, formar, transformar tudo em um, uma coisa idêntica, uma produção em série. Todos fazendo tudo do mesmo jeito – eis a técnica! Um que faz o mesmo que todos, mas de um jeito diferente – eis o estilo!

Se a técnica não reina absoluta, tampouco os estilos pessoais dominam o império do esporte. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra, já dizia o poeta. O grande corredor é aquele que consegue, sabiamente, ajustar a técnica ao seu estilo. A técnica não é tudo, mas o estilo pode ser prejudicial. Há indivíduos cujo estilo é tão conflitante com o padrão técnico que se torna algo quase impossível ou improvável para a PROMOÇÃO de uma mudança qualitativa. Não há treino que dê jeito, não há exercício capaz de conciliar técnica e estilo. Mas isso não significa que eles não devem correr. Sim, devem e podem correr, ao seu jeito, no seu ritmo, com os movimentos que lhes são particulares. E não importa se vão vencer ou bater recordes: importa que corram, que participem como todos os demais, sem exceção.

A BOA FORMA TÉCNICA. É observando os grandes campeões, portanto, que podemos perceber alguns elementos que vamos denominar como “padrão técnico comum”, ou seja, aqueles sinais exteriores que nos possam indicar quais os “defeitos básicos” podem ser passíveis de correção e, deste modo, submetidos ao aprendizado técnico. Assim, de um modo geral, os corredores apresentam uma técnica de corrida que, apesar da diferença de estilos, é comum a todos.

Os elementos que fazem parte do “padrão técnico comum” dos corredores de fundo integram o gesto específico característico da corrida de longa distância. Partindo da observação de um corredor em ação, distinguimos os seguintes pontos críticos do gestual técnico da corrida:

1) ombros e pescoço: devem estar relaxados, sem sinal algum de tensão;

2) braços e mãos: cotovelos semi-flexionados, braços e mãos relaxadas; os braços não devem cruzar à frente do tronco;

3) tronco e quadril: não devem apresentar oscilações excessivas;

4) pés: sempre apontados para frente, na direção da corrida.

A análise dos pontos críticos nos mostra que:

a) tensões musculares desnecessárias (como pescoço, ombros, braços e maxilar rígidos, mãos cerradas);

b) oscilações excessivas (que denota um desequilíbrio corporal – o corredor faz o movimento para fora do seu centro de gravidade; isto pode ser observado facilmente, ao correr sobre uma linha reta, onde os pés não devem cruzar e nem se afastar para fora da linha);

c) extremidades apontadas para outras direções (como mãos e braços cruzando à frente do tronco e os pés na posição “dez para as duas”) – podem ser prejudiciais ao melhor rendimento possível.

Tais detalhes podem não corresponder ao estilo pessoal, porém serem indicativos de uma má postura atlética decorrente de músculos enfraquecidos (principalmente glúteos, os posteriores da coxa, dorsais e abdominais). Um reforço muscular pode ser suficiente para corrigir esses desvios relativos ao “padrão técnico comum” e deixar o corredor em boa forma técnica.

Fonte: Revista Contra Relógio