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14 ago 2013

Neuroma de Morton, a pedra no tênis” do corredor

Imagine a seguinte situação: durante a CORRIDA, ao deslocar seu peso pra frente para mais uma passada, você sente uma dor estranha na sola do pé quando o apóia no chão. Imediatamente tira o tênis para ver o que é, mexe os dedos e a dor desaparece! Você ainda dá uma olhadinha no tênis e no chão pra ver se encontra alguma coisa e… nada. O que será que causou essa dor? Fique atento, você pode ter neuroma de Morton.

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O neuroma de Morton foi descrito pela primeira vez com mais detalhes por Thomas G. Morton, em 1876, como uma lesão tumoral benigna representada por uma fibrose do nervo digital plantar. Traduzindo: o neuroma é uma pequena massa que se forma ao redor do nervo que passa na parte inferior do pé, no local em que ele se divide e vai para os dedos Também é conhecido como metatarsalgia de Morton, neuralgia de Morton, neuroma plantar, neuroma intermetatarsal e neuroma do antepé.

Normalmente o neuroma de Morton localiza-se entre o terceiro e o quarto metatarso, ossos longos do pé que se articulam com os dedos (como indicado na figura) com prevalência de 80%, embora possa ocorrer nos outros espaços. Essa prevalência se deve ao fato de que este é o local em que há maior MOVIMENTO, podendo causar pequenas lesões, chamadas de micro-traumas, levando ao espessamento e a compressão do nervo.

Sua causa é desconhecida, porém como acontece mais entre as mulheres (86% dos casos), sugere-se que a lesão seja desencadeada também pelo uso de sapato de salto alto e bico fino, onde ocorre aumento da pressão nas cabeças dos metatarsos e conseqüentemente compressão do nervo. No esporte este mesmo mecanismo ocorre em pessoas que apresentam uma biomecânica ineficaz, devido a alterações nas articulações, e forçam muito as pontas dos pés durante as passadas ou costumam correr nas pontas dos pés. O corredor que apresenta esta característica pode desenvolver o neuroma de Morton, principalmente ao aliar biomecânica ineficaz ao impacto da corrida.

SINTOMAS. A principal queixa é a dor intensa e intermitente no metatarso, ao andar ou ficar de pé com o PESO do corpo no antepé, após um período curto de tempo. Essa dor se origina no metatarso e pode se irradiar para os dedos ou para a parte posterior do pé.

A dor é do tipo queimação, podendo também vir acompanhada de dormência e sensação de choque elétrico. Alguns pacientes relatam a sensação de inchaço, mas apenas a sensação, já que o edema pode não existir.

A hiperextensão dos dedos durante a descarga de peso no momento em que o pé está apoiado no chão durante a passada e também no agachamento, na subida de escadas e na corrida (principalmente em subidas) podem agravar os sintomas.

A dor geralmente apresenta melhora com a retirada do calçado e massagem dos pés e piora com a persistência do uso de “calçados antifisiológicos” como sapato de salto alto, bico fino ou solado duro. Atenção: quando dizemos “calçados antifisiológicos” incluímos também os sapatos masculinos de solado rígido e bico mais fino! Em casos mais graves a dor pode persistir mesmo ao andar descalço e ao repouso.

DIAGNÓSTICOS. O diagnóstico do neuroma de Morton se dá através dos sinais e sintomas descritos pelo individuo, seu histórico e o exame FÍSICO. Neste teste é realizada uma compressão latero-lateral dos metatarsos, ao mesmo tempo em que se realiza uma pressão na planta do pé na região acometida. Neste teste, a pessoa pode se queixar de dor e pode ocorrer estalido, resultado da movimentação do neuroma entre as cabeças dos metatarsos. Outros exames podem ser realizados para comprovação e diagnóstico diferencial, isto é, descartar a possibilidade de outras alterações. Na radiografia não é possível visualizar imagem sugestiva de neuroma, mas este exame pode indicar outra patologia que possa estar causando a dor, descartando neste caso o neuroma de Morton, ou mostrar alguma alteração óssea que predispõe a formação do neuroma.

No ultra-som o neuroma aparece de forma bem clara desde que tenha um tamanho maior que 5 mm. Lesões menores podem ser difíceis de observar neste exame, sendo assim a ressonância magnética se torna o exame mais indicado.

É comum confundir o diagnóstico do neuroma com outras doenças com sintomas parecidos. Entre elas temos: capsulite, bursite intermetatarsal, fratura por stress dos metatarsos, artrite reumatóide, calosidades plantares associadas a dedo em martelo ou em garra, síndrome do túnel do tarso. Por isso, caso você apresente os sintomas citados nesta matéria procure um ortopedista para que o diagnóstico correto seja feito e você possa iniciar seu tratamento da maneira mais indicada.

TRATAMENTOS DIVERSOS. É importante saber que um neuroma de Morton não regride espontaneamente, portanto o tratamento é necessário.

O tratamento conservador (não cirúrgico) é o mais indicado a princípio, sendo a cirurgia para retirada do neuroma realizada apenas se o tratamento conservador não apresentar sucesso.

O primeiro passo no tratamento do neuroma de Morton está nas mudanças de hábito. Isto inclui trocas de calçados que devem ter solado macio e espaço suficiente para alojar todo o pé com conforto. A avaliação de um profissional é imprescindível para determinar o tipo de pisada (neutra, supinada ou pronada) e assim indicar o melhor tipo de tênis para atividade esportiva escolhida.

Pode ser necessário o uso de antiinflamatórios e analgésicos indicados pelo médico na fase aguda com objetivo de diminuição do processo inflamatório. A infiltração de medicamento no local apresenta bons resultados quanto à redução da dor em casos mais graves.

Na fisioterapia, como recurso antiinflamatório pode ser realizada também a sonoforese, técnica onde durante o uso do ultra-som o gel utilizado é substituído por um gel preparado com substâncias antiinflamatórias ou por um antiinflamatório emulgel, caso o paciente tenha indicação para este uso. Esta técnica associa os efeitos do ultra-som com o aumento da penetração do medicamento através da pele e dos tecidos. O uso de correntes elétricas analgésicas como o TENS, por exemplo, também auxiliam no tratamento da dor.

O fisioterapeuta pode utilizar técnicas de terapia manual, como a mobilização dos metatarsos e dos dedos do pé e massagem na musculatura plantar, para aliviar a pressão que o neuroma sofre pelos metatarsos e a tensão muscular aumentada devido à dor.

Os exercícios de equilíbrio e propriocepção também devem ser realizados para melhorar as condições da pisada, principalmente porque devido à dor o atleta altera sua forma de pisar, causando inúmeros prejuízos em outras partes do corpo.

A fisioterapia é essencial para correção da biomecânica alterada do pé, adequando seu posicionamento que, como já foi descrito, é uma das principais causas deste quadro. Essa correção é feita através de exercícios que incluem alongamento, fortalecimento e trabalho de conscientização corporal.

CALOS E PALMILHAS. O excesso de calosidade pode alterar a pisada e assim desencadear ou agravar os sintomas. Calos são necessários ao atleta, mas em excesso atrapalham! Cuide dos calos, procure um podólogo para isso.

O uso de palmilhas para diminuição do impacto nas cabeças dos metatarsos também apresenta bons resultados na diminuição da dor. Elas podem ser associadas às outras medidas terapêuticas.

Mudanças no treinamento devem ocorrer principalmente na fase aguda. Saltos, agachamentos na ponta dos pés e subidas devem ser abolidos. Para manutenção do condicionamento físico sugerimos a bicicleta, que também trabalha a musculatura dos membros inferiores sem pressionar os metatarsos, além de trabalhar o sistema cardiorespiratório. Após a melhora dos sintomas, o treinamento usual pode ser retomado aos poucos.

O tratamento conservador reverte os sintomas em 70% dos casos, porém, como o neuroma permanece lá, os sintomas podem voltar a se manifestar. Por isso é importante que o trabalho de adequação da biomecânica, os exercícios de propriocepção e as técnicas de relaxamento, principalmente após a corrida, continuem sendo realizados.

Quando o tratamento conservador não apresenta êxito, a cirurgia é indicada. É uma cirurgia relativamente simples, onde o neuroma é retirado. A incisão (acesso cirúrgico) pode ser plantar (pela planta do pé) ou dorsal (pelo “peito do pé”). Quando esta última é a escolhida o paciente já pode andar no pós-operatório imediato. A cirurgia é o tratamento definitivo para o neuroma de Morton. Seu médico irá decidir qual o melhor caminho para seu caso.

PREVENÇÃO. A prevenção é sempre a melhor opção! Assegure-se da adequação biomecânica de seus pés, use sapatos confortáveis, evite calosidades excessivas, relaxe a musculatura dos pés após a corrida. E se você apresentar os sintomas relatados procure um ortopedista para que o diagnóstico seja feito corretamente e inicie seu tratamento para que esta “pedra no seu tênis” não atrapalhe sua corrida!

Fonte: Revista Contra-Relógio